Aprendi a não olhar para trás, pelo menos não tão constantemente. Olhar para trás nos remete a coisas que a gente nem acredita que viveu, que fez, que suportou. Retoma nossos erros e acertos e, quase sempre, é difícil entender a lógica de como pensávamos, a diretriz de nossas ações, a força que nos moveu a colidir tão severamente com o que hoje somos. Mas, no meu caso, quando raramente busco os fatos que já se foram, fica uma certeza impagável: o tempo foi meu amigo. Foi um professor habilidoso, desses que nos passam uma equação dificílima para ser solucionada em várias etapas, sempre consciente do resultado final, apesar dos muitos cálculos falhos durante a empreitada.
A vida tem uma maneira peculiar de nos testar e fazer emergir aquilo que somos e nem sabemos. Impossível não desconfiar dos que levantam a bandeira do passado inócuo, da fortaleza de emoções, da rocha que se manteve firme mesmo diante das mais fortes tempestades. Desmoronar também é viver. Se despedaçar também é colocar as peças no lugar. É a chance valiosa de se refazer, de se ver com outros olhos, de saber onde dói, onde aperta, onde comove. Aprender com o que passou é honrar a vida que segue. É na janela do novo que a gente percebe que valeu a pena. Não pode ser leve quem nunca sentiu peso. É essa a beleza da vida: ela não fica mais fácil com o passar dos anos, mas nós ficamos mais fortes.
Penso que a felicidade nada mais é do que ser grata ao que já foi, convicta de que, dentre todas as coisas que pude ser, hoje sou bem melhor.
Raquel Barroso
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