Uma vez me disseram, na confusão de sensações que me invadiam, que tudo que vivemos intensamente permanece inabalável num local de fácil acesso, onde nos refugiamos quando tudo parece tristemente impregnado de realidade.
Voltar no tempo seria a solução da maioria de nossos problemas: fazer o que queríamos ter feito, amar a quem queríamos ter amado, falar tudo que calamos. Mas o tempo não volta, as chances não se repetem, pelo menos não da mesma forma, com a mesma magia, com a mesma confiança de outrora, com o mesmo aval do destino.
As mudanças, tão drásticas, tão dolorosas, nos tornam adultos e cientes de que não podemos sonhar como antes...
O tempo passou, não conseguimos detê-lo, as transformações consolidaram-se. Olhamos em volta e percebemos que crescemos, que agora temos o peso da responsabilidade, a exigência do acerto, as oportunidades restritas, os amores contados, os sonhos perdidos. Experimentamos a dor, suportando-a como achamos que nunca conseguiríamos; perdemos o orgulho e a vaidade, na certeza de que “nunca dizer nunca” é o dito mais verdadeiro que existe. E, de repente, nos tornamos saudosos do que era tão profundo, tão real, tão alcançável então, mas nós simplesmente não o sabíamos assim.
É um sonho distante, amedrontado por possibilidades remotas, pelo medo do erro, pela covardia de quem achou que seria mais sábio se deixasse a vida correr sem correr atrás dela... E esse segredo tão íntimo, tão preso a fios do passado, tão descrente de tudo, tão esquecido e tão lembrado, evocado em momentos de fuga e nostalgia, nos deixa a solene resposta de que, ainda que tudo nessa vida passe, um tempo antigo, um tempo porvir, um tempo agora... O coração tem memória.
Raquel Barroso
Raquel Barroso
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